Há mais coisas no céu e na
terra, Horácio, do que sonha a vã filosofia.
– William
Shakespeare1
Certo home e sua esposa, ao
caminharem numa manhã de primavera viram, cerca de três metros acima de suas
cabeças, um "grupo flutuante de criaturas gloriosas, lindíssimas que
brilhavam numa beleza espiritual". Eram seis jovens mulheres, descritas
como "anjos celestiais", que usavam vestes brancas esvoaçantes e
conversavam umas com as outras com muito entusiasmo numa língua que o casal não
entendia. Eles disseram que essa experiência transformou radicalmente sua ideia
acerca de anjos. 2
Uma mulher acordou no meio da noite
a fim de ver um anjo em pé à beira de sua cama. Esse anjo, um ser feminino,
usava vestes de "linho não alvejado" que cobriam seus pés, e possuía
lindas asas "como as penas ou asas de uma grande ave". O anjo
simplesmente ficou lá, de pé, sem nenhuma luz misteriosa e não deixou nenhuma
mensagem. 3
Um jovem rapaz de família abastada
estava tentando escapar de unir-se a uma determinada igreja que parecia ser
cheia de superstições. Ao tentar sair do recinto, um grande cão negro apareceu
e bloqueou sua saída. O cão parecia ameaçá-lo, impedindo assim que saísse dali.
Quando o cão desapareceu, raios de luz começaram a emanar de dentro da igreja.
O jovem seguiu aquela luz e teve uma visão. Ele não apenas juntou-se à igreja
como também tornou-se muito conhecido lá.4
George Washington, o primeiro
presidente dos Estados Unidos, teve uma visão no Valley Forge em 1777. Dizem os
relatórios que Washington teve uma linda visão de um ser feminino numa tarde
enquanto trabalhava em seu escritório. Ela mostrou a ele imagens de três
guerras que iriam acontecer em seu continente, duas das quais muitos consideram
ser a Guerra da Revolução e a Guerra Civil, sendo a terceira uma ameaça
vermelha ainda por vir. 5
Febre Angelical
As
histórias que relatei são apenas um ínfimo exemplo da explosão atual do
interesse pelos anjos.
O
número e frequência de tais relatórios têm crescido tanto nestes últimos anos
que a mídia nacional de notícias tem devotado grandes reportagens de histórias
relacionadas a esse fenômeno. Tanto a revista Time quanto Newsweek tiveram
importantes artigos publicados acerca de anjos (dezembro de 1993). Artigos
também têm aparecido em outras revistas e em jornais de circulação nacional,
incluindo o The Wall Street Journal.
A convenção nacional daqueles que colecionam
objetos de arte relativa a anjos, livros e estatuetas acontece a cada dois anos
promovida pelo Clube Norte-americano de Colecionadores de Anjos, localizada em
Golden, Colorado. Por todo lugar, lojas têm sido abertas para vender nada mais
do que artigos referentes a anjos – calendários, perfumes, porta-guardanapos,
papéis de carta, e mais uma infinidade de objetos. Em muitos locais as pessoas
estão enviando arranjos com motivo de anjos em vez de coroas de flores a
funerais. 6
Centenas
de pessoas tiveram de ser dispensadas de um seminário acerca de anjos num
recinto onde apenas se podia assistir em pé, na Catedral Nacional de
Washington, por falta de espaço. Seminários semelhantes e palestras de grupos
experimentais têm sido realizados por todo o país, e alguns deles são
designados para ajudar a pessoa a entrar em contato ou comunicar-se com o seu
anjo da guarda.7 Conferências computadorizadas acerca de anjos estão
disponíveis a quem tem acesso a um computador ligado em rede.
A
Rede de Observação de Anjos, sediada em Mountainside, New Jersey, capta idas e
vindas angelicais e relata toda sua pesquisa num jornal bimestral. 8
O
livro que parece ter iniciado a explosão atual de interesse em anjos é Um Livro
de Anjos, escrito por Sophy Burnham em 1990.9 No final de 1993 o livro já
somava mais de meio milhão de cópias vendidas. Seu livro é uma mistura de
folclore, experiências pessoais e outras histórias que ela colecionou. Em 1991
Burnham publicou a sequência do livro, intitulada Cartas Angelicais, contendo
cartas de leitores do primeiro livro, que já vendeu mais de duzentas e
cinquenta mil cópias.
Muitos
outros livros seguiram os passos de Burnham, e somente alguns dos livros do
mesmo tema publicados entre 1975 a 1990 foram reeditados, como a seguir
relaciono: O best seller escrito pelo evangelista Billy Graham (agora revisado)
Anjos-Agentes Secretos de Deus; o livro escrito pelo professor do Instituto
Bíblico Moody C. Fred Dickason, Anjos: Eleitos e Maus, ambos publicados em
1975, e o escrito pelo filósofo conhecido mundialmente, Mortimer Adler Os Anjos
e Nós, publicado em 1982. (Houve mais alguns livros acerca de anjos publicados,
mas atingiram somente uma pequena e específica parcela no mercado cristão.).
Graham
disse de seu clássico de 1975 que havia tão poucas publicações modernas
disponíveis quando iniciou sua série de pregações a respeito de anjos, que
decidiu escrever um livro acerca deles. Semelhantemente, o livro de Adler foi o
resultado de uma palestra acerca do significado filosófico dos anjos
apresentada no Instituto de Estudos Humanísticos em Aspen. Sua palestra atraiu
uma audiência maior do que seus trinta anos de carreira já haviam atraído. Ele
também decidiu escrever um livro desse tema. 10
O
fenômeno atual dos anjos é moda, fantasia ou realidade? Os céus estão agora em
contato mais intenso com a terra, permitindo que seres sobrenaturais permeiem
livremente o universo material?
MODA,
FANTASIA OU REALIDADE?
As pessoas que não acreditam no
sobrenatural acham que essa é uma moda passageira. Outros creem que as massas
populares estão sendo compradas pela falsificação, por haverem recusado a realidade
de Deus.
Certo
crítico cultural diz:
Os psicanalistas estão começando a reconhecer
que a maior doença do nosso século é a perda da alma.
Quando falamos acerca de anjos, vemos uma
cultura tentando desenvolver um senso de produção de alma. 11
Certa
vez alguém disse que a descrença em Deus não resulta na crença no nada; a
descrença em Deus normalmente resulta na crença em qualquer coisa. Muitas
pessoas pensam que o vácuo espiritual nos Estados Unidos hoje c a causa
principal do interesse repentino em anjos.
A
revista Time relatou que 69 por cento das pessoas entrevistadas creem na
existência de anjos, e 46 por cento crê que é protegido por um anjo da guarda. 12
A
revista Cristianismo Hoje – destinada a evangélicos – esteve à frente das
revistas de âmbito nacional com um artigo acerca de anjos, publicado na
primavera de 1993. O autor do artigo apontou que a sociedade parece
"propensa" ao contato com o sobrenatural, e devido a esse fato está
ameaçando a igreja de sobrepujá-la ao questionar e discutir acerca de anjos. 13
Houve até a previsão de que a busca do sentido espiritual estaria entre as
grandes preocupações modernas nos anos noventa. 14
Podemos
então concluir que o interesse por anjos dos anos noventa pode ser uma das três
opções: moda, fantasia ou realidade.
O
que se refere à moda passará com o tempo. Antes da Segunda Grande Guerra
Mundial as pessoas colecionavam peças de arte, selos, peças de cristal,
porcelana e antiguidades. Com o passar das décadas, as campanhas de coleções
diversificadas de broches, placas e artigos referentes à Elvis Presley
emergiram. Nos anos oitenta as pessoas colecionavam objetos trazendo figuras de
vacas, gansos, patos, porcos e galinhas. Agora, entretanto, estamos em plena
época de coleção de anjos.
Tão
certo como esta é uma moda movida pelo comércio, algumas das histórias de
contatos pessoais são o resultado da própria imaginação das pessoas.
Certo
teólogo do Seminário de St. Charles Borromeo disse que suspeitaria de uma
experiência sobrenatural ou espiritual que não estivesse fundada no código
moral ou nos parâmetros religiosos. Acrescentou ainda: "Temos asilos
lotados de pessoas que já conversaram com anjos, Napoleão e muitos
outros".
Mas
mesmo que parte dessa explosão seja moda e parte fantasia, o que dizer da
realidade? Que padrão poderemos usar a fim de testar a veracidade de tais
experiências?
Algumas
pessoas dizem que podemos confiar em livros religiosos; outras dizem que
preferem fatos históricos ou experiências pessoais. Crentes no Senhor Jesus, o
Cristo, diriam que há somente uma prova: a Bíblia. De acordo com este padrão,
todos os contatos referidos no início deste capítulo caem por terra ao serem
submetidos ao teste de autenticidade: Nenhum deles se enquadra em fatos
bíblicos acerca dos anjos de Deus. As discrepâncias incluem o seguinte:
1.
Nas Escrituras, os anjos de Deus sempre aparecem na forma masculina. Anjos na
forma feminina aparecem em alguns relatos e em algumas experiências pessoais,
mas nunca na Bíblia.
2.
Um anjo de Deus nunca aparece na forma de animal ou ave. (Um anjo apareceu a um
jumento certa vez.)
3.
De acordo com a Bíblia, os anjos são uma classe criada de seres e não são
representados como humanos progredidos espiritualmente. Em outras palavras,
seres humanos não se transformam em anjos.
Toda experiência sobrenatural não
procede necessariamente de Deus. Todo espírito que se chama a si mesmo Senhor
não é o Senhor dos senhores e nem o Rei dos reis, Jesus Cristo.
Muitos livros atuais mostram anjos
como fadas-madrinhas, completamente ansiosas por ajudar seres humanos. Essa é
uma perspectiva parcial, e muito perigosa.
OS ANJOS SÃO SEMPRE ESPÍRITOS BENIGNOS?
Os
seres humanos sabem instintivamente que tem de haver algo lá fora no universo.
No entanto, civilizações inteiras têm zombado ante a ideia de um Ser Supremo
que criou e "possui" todo o universo e a humanidade. Não obstante,
essas mesmas civilizações envolvem-se com deuses menores que as leva à
escravidão e à degradação. Será isso o que está acontecendo em nossos dias?
Por
um lado, esta é a primeira vez na história dos Estados Unidos em que a crença
em Deus está tão impopular que a crença em qualquer coisa pode ocorrer. Os
pequenos deuses do humanismo, materialismo e da rebelião contra a autoridade
(independência) não trazem mais satisfação. A busca hoje é de valores
espirituais - mas sem a presença de Deus.
Mesmo
escritores seculares já notam a diferença entre os anjos da Bíblia e aqueles
seres descritos e discutidos nas experiências atuais. O artigo na revista Time
apontou:
“Os anjos de Jeová são criaturas poderosas...
(mas) em sua encarnação moderna, esses fortes mensageiros e bravos soldados têm
sido reduzidos a seres mínimos, doces como bala e facilmente digeridos. Os
terríveis querubins (da Bíblia) foram transformados em lindos bonequinhos
bochechudos...”
A
ênfase dada a anjos como intermediários divinos preocupam-se os teólogos,
apenas cria um abismo maior em relação a um Deus ainda mais abstrato. Devido ao
fato dos anjos sempre se apresentarem como seres benignos, a ideia da luta
entre o bem e o mal fica completamente perdida.
A
apresentação de anjos como sendo sempre benignos é o equivalente a introduzir
uma tendência num experimento de laboratório, deixando de fora parte das
informações a fim de que o resultado desejado seja alcançado. A situação clama
por questões lógicas.
De
onde vieram os anjos? Eles evoluíram? Que tipo de célula poderia evoluir em criaturas
celestiais? Se não foi evolução, quem criou os anjos? O criador era bom ou mau?
E o
que dizer dos contatos das pessoas com seres das trevas? Podemos simplesmente
dizer que essas histórias não são verdadeiras? Somente os anjos bons são reais?
Podemos
entender que os escritores seculares não sejam educados nos padrões dos fatos
bíblicos no que diz respeito a anjos. Mas saber que muitos cristãos não têm
ideia das respostas a todas essas questões é perturbador. Uma das maiores e
principais denominações dos Estados Unidos, a que tem a mais forte comunidade
evangélica, ofereceu grande variedade de livros de muitas editoras em seu
catálogo de vendas de 1994. Dois desses livros abordavam o tema anjos - um
discorria acerca de anjos de aspiração avançada, e o outro era um guia de
despertamento do anjo no interior de cada um de nós. 11
Artigo extraído do livro:
VERDADE ACERCA DOS ANJOS
Autor: Terry Law
Editora: Betel
Ano: 2ª impressão 2001
Notas:
1. William Shakespeare, Hamlet, lo. ato, cena 5, linha 166, como citado em John Bartlett, Citações Familiares, décima-terceira edição
(Boston: Little, Brown and Company, 1955), p. 173.
2. S. Ralph Harlow, "O Dia em que Vimos
os anjos ", em Pegadas na Neve (Nashville, Tenn.: Dimensões da Vida, 1992), pp. 102-103.
3.
Sophy Burnham, Cartas Angelicais (New York: Ballantine Books, 1991), pp. 87-89.
4. Bob e Penny Lord, Exército Celestial de Anjos (n.p.: Jornadas da Fé, 1991), pp. 167-168.
1. Wesley Bradshaw, Tribuna Nacional, Dezembro de 1880.
2. Martin Mitchell, "A Popularidade dos
Anjos Continua em Alta ", Tulsa (Okla.) World, 12 de Janeiro de 1994, Midtown Tulsa Zone Sect, p. 1.
3. Editorial, Repórter Cristão Nacional, 7 de Janeiro de 1994.
4. Woodward, "Anjos",p. 53.
5. Sophy Burnham, Um Livro Acerca de Anjos (New York: Ballantine Books, 1990).
10. Timothy Jones, "Rumores acerca de
Anjos", Cristianismo Hoje, 5 de
Abril de 1993, p. 20. Jones também é autor do livro A Celebração dos Anjos
(Nashville, Term.: Thomas Nelson, 1994).
Abril de 1993, p. 20. Jones também é autor do livro A Celebração dos Anjos
(Nashville, Term.: Thomas Nelson, 1994).
11. Peter Rojcewics, folclorista e crítico de arte da Escola Julliard na cidade de New York, como citado no editorial do Repórter Cristão Nacional, 1 de Janeiro de 1994.
12. Gibbs, "Os Anjos entre
Nós", p. 56.
13. Jones, "Rumores acerca de
Anjos", p. 19.
14. Idem.
15. Thomas J. Herron, reitor acadêmico do departamento de teologia do Seminário St. Charles Borromeo, como citado na história por Tanya Barrientos, Tulsa (Okla.) World, 2 de Janeiro de 1994,
Living Sect. p. 2.
16. Gibbs, "Os anjos entre Nós",p. 56,65.
17. Os dois livros oferecidos
foram escritos por Karen Goldman: O Livro Angelical: Manual
de Aspiração a Anjos e Vozes de Anjos (New York: Simon & Schuster, 1993 e 1994, respectivamente.
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